Quarta Parede

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Otelo é primeira peça de 2007 no TNSJ

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Ângelo Torres (Otelo), Nuno Cardoso (Iago), Rita Loureiro (Desdémona) e Sara Barbosa (Emília) formam o quadrado trágico de «Otelo», de William Shakespeare, que estreia na próxima quinta-feira, dia 11, no Teatro Nacional São João. “Trata-se de uma peça sobre a incapacidade de dizer a verdade”, adianta o encenador Nuno M. Cardoso, assumindo cortes no texto traduzido por D. Luís de Bragança. “Troquei a carga política do primeiro acto da peça original pela abordagem detalhada da personagem veneziana de Rodrigo (Carlos António) e centrei o segundo acto em Cássio (Daniel Pinto), o vértice do triângulo do ciúme”, explica. Já perseguido pela personagem de Otelo há três anos, o encenador agarrou a oportunidade de montar o espectáculo quando soube do desejo de Nuno Cardoso em interpretar Iago e depois de conhecer Ângelo Torres. Esta é uma versão “mais reduzida, com menos política, mais emoções, incomunicações e religião”, diz Nuno M Cardoso.

Dez anos depois de ter encenado «Romeu e Julieta» no Teatro Universitário do Minho, em Braga, Nuno M. Cardoso regressa a Shakespeare, “um autor incontornável quando falamos do universal”. Apesar das muitas e boas versões a que já assistiu, o encenador admite que o seu percurso criativo se fez pela afirmação clara de uma leitura pessoal. “Há uma necessidade total de dizer a verdade e perguntar a verdade quando estamos perante três personagens extraordinárias [Otelo, Iago e Desdémona] que personalizam as falhas de comunicação e as emoções que fazem pulsar os seres humanos ordinários”, defende. Confesso apaixonado pelos intérpretes, Nuno M. Cardoso diz ter “dissecado as personagens”, dando-lhes a conhecer o seu “universo”. Porque, nesta luta entre o bem e o mal, há lugar para a verdade, desde que exista consciência.

O princípio da consciência
Considerando Iago “uma das personagens de charneira que todos os actores querem interpretar”, Nuno Cardoso partilhou o agrado com este “convite feliz”. “O que mais me espanta é a sua [de Iago] absoluta amoralidade e a perfeita consciência e controlo de todos os esquemas que urde”, diz. Para o actor, mais conhecido pela encenação de diversas peças no Teatro Carlos Alberto, esta é uma das personagens mais inteligentes jamais criada. “O grande truque de Iago é ser uma personagem de teatro que faz teatro”, brinca.
Para Ângelo Torres, esta interpretação também consubstancia um sonho: “Cheguei ao meu Evereste. Posso dividir o meu percurso em ‘antes’ e ‘depois’ de Otelo”. A descoberta da personagem foi uma caminhada para o actor, que no início, depois de ler aprofundadamente a obra, se perguntava como é que Otelo podia ser tão ingénuo. “Se fosse intrinsecamente bom, chegaria um mouro a ser general em Veneza? Que esqueletos guardaria no armário?”, questionava-se. Foi, então, compreendendo que Otelo era crédulo de mais. “Ele prezava a honestidade e Desdémona era a sua fé. Quando falharam, ele ficou sem chão e viu-se no caos em que muitas pessoas boas se vêem com muita facilidade”, analisa Ângelo Torres, sublinhando a actualidade dos textos.

Roupagens
Para «Otelo», Carlota Lagido concebeu figurinos que nos compelem para a contemporaneidade, criando um guarda-roupa urbano, mas não militar. A visão de Nuno M. Cardoso de Desdémona faz justiça ao seu feminismo: “Está de botas e calças, é sensual sem ser efeminada nem donzela sacrificial”. Toda a cenografia é invernosa, contrariando o clima quente da Ilha (de Chipre). “As ideias de paixão e ciúme são comummente associadas ao calor, mas como tudo isto é criado numa mente é um produto do frio. Daí este Inverno, que cobre todo o elenco”, justifica Nuno M. Cardoso. As baixas temperaturas estendem-se ao cartaz do espectáculo e ao cenário, que expõe um cubo de gelo a derreter ao longo da peça. A ideia inicial era de lama, mas o encenador decidiu atolar as personagens na neve, “que queima”.

Co-produzida pelo TNSJ e O Cão Danado e Companhia, «Otelo» vai estar em cena de 11 a 21 de Janeiro, de terça-feira a sábado, pelas 21h30, e domingo às 16h00.
O primeiro de Janeiro,  8/1/2007, Artes

Written by Jorge

Janeiro 9, 2007 às 2:41 pm

Publicado em Instituição, Recortes

2 Respostas

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  1. oiiii
    tudo bom? e porque eu e umas meninas vamos fazer um trabalho de ingles que a obra de o William Shakespeare, Otelo ai agente queria uma sujetao como e que nos iriamos fazer essa peca, com quantas peços, a roupa e como agente iria fazer isso?eu agradeco muito se voce responder.
    abraço.

    aline

    Abril 19, 2008 at 4:40 pm

  2. oiiii
    tudo bom? e porque eu e umas meninas vamos fazer um trabalho de ingles da obra de William Shakespeare Otelo, ai agente queria uma sujestao como e que nos iriamos fazer essa peça, com quantas pessoas, a roupa e como agente iria fazer isso?eu agradeco muito se voce poder responder.
    abraço.

    aline

    Abril 19, 2008 at 4:42 pm


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