Quarta Parede

Blog de reflexão sobre teatro e dramaturgia.

Estreia: Ptolomeu e a sua viagem de circum-navegação, de Tchalê Figueira

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Ptolomeu Rodrigues é um marinheiro cabo-verdiano que celebra a epopeia secular do seu povo, evadindo-se da sua ilha, ainda muito novo. Navega por todos os mares do mundo e convive com galdérias e prostitutas, malandros, candongueiros e chulos, marinheiros e outras gentes do mar. Define-se como “um preto bem vestido” e está sempre pronto a “mostrar o seu orgulho de macho, bem apetrechado”. Acompanhamo-lo então por Roterdão onde convive com os seus compatriotas emigrados, viaja de barco entre a Holanda e a Irlanda, onde encontra duas militantes revolucionáras da ETA e do IRA, estamos num bordel do Ferrol, na Espanha de Franco “um fascista que nem ao menino jesus interessa”, atravessamos as ruas geladas de Vladivostoque, na Sibéria, então a Guantânamo soviética, onde o nosso herói é preso e torturado depois de ter feito amor, ao mesmo tempo, com três “meninas” russas, acontecendo-lho “uma erecção jamais vista”. Enviado sob escolta para Berlim Oriental, aí é salvo pelos obreiros da independência da sua terra, antes “colónia dos fascistas tugas”. Vai ainda dançar o tango a Buenos Aires numa Argentina sob o poder dos generais e finalmente chega à Baía de Todos os Santos, em São Salvador, onde se apaixona…

Interpretada em tom de comédia, esta é uma peça de teatro em que os actores, num ecléctico e multifacetado jogo de personagens e utilizando um linguagem crua e descomplexada, nos vão contando, às vezes com uma boa dose de cinismo, histórias deste aventureiro dos sete mares que, aparentemente, só nos fala e de uma forma despudorada, das suas picarescas proezas sexuais.
Porém, as aparências (e o Teatro) iludem, porque a peça é, afinal, uma bela história de vida que nos fala de um grande amor perdido e de uma nova amizade conquistada. Ptolomeu aprendeu muito por esse mundo fora e dá-nos a conhecer episódios e acontecimentos políticos e sociais de que é testemunha.
É por isso que o Teatro é um lugar de futuro, nele se encontra, também, a memória dos homens.


Ficha Técnica

Autor: Tchalê Figueira
Dramaturgia e encenação: José Leitão
Interpretação: Flávio Hamilton e Valdemar Santos
Direcção de movimento e sonoplastia: Tilike Coelho
Direcção plástica e cartaz: Fátima Maio
Espaço cénico: José Leitão, Fátima Maio e José Lopes
Desenho de luz: Leunam Ordep

classificação etária: M/ 16 anos
duração aproximada: 100 m

data e local de produção

Estreia mundial a 13 de Setembro no Mindelact, Cabo Verde.
Ante-estreia nacional a 12 Outubro 2008 no Festival Internacional Teatro Cómico da Maia.
Temporada de 18 a 30 de Outubro no Teatro do Campo Alegre, Porto.

Written by Jorge

Outubro 16, 2008 às 12:14 pm

Publicado em Companhia, Evento

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